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Se você está pensando em comprar um celular novo, pode ser que esteja se perguntando: compro um smartphone com Android ou um iPhone? Durante um tempo eu usei Android, depois passei um tempo usando iPhone, e agora estou voltando para o Android. Então decidi escrever esse texto para compartilhar minha experiência e possivelmente ajudar quem está em dúvida a se decidir por um ou por outro.
Note que aqui eu falo por mim, outras pessoas podem te relatar experiências muito parecidas ou muito diferentes. Não é meu objetivo esgotar o assunto, então você pode procurar a opinião de outras pessoas. E, claro, a decisão final é sua.
Os modelos mencionados abaixo são apenas exemplos, não são recomendações de compra. Faça sua própria pesquisa e decida qual celular é melhor para você.
Minhas experiências com Android e iPhone
Eu sou do tipo que faz de tudo um pouco com o celular: ligo, mando mensagens, uso a Internet na rua, uso GPS, redes sociais, netbanking, bato fotos, filmo, escuto música com fone de ouvido Bluetooth… instalo muitos aplicativos e exijo muito da bateria e da memória.
Antes de ter meu primeiro iPhone, eu tive 3 smartphones com Android, usei cada um por um ano ou dois. Cada um terminou sua vida útil de um jeito diferente.
O LG Optimus Net Dual P698 que usei entre 2012 e 2014 no final travava toda hora, até mesmo parado no bolso sem fazer nada, ele vibrava e reiniciava.
O Samsung Galaxy S4 Mini Duos que usei entre 2014 e 2016 veio com muitos aplicativos de fábrica que eu não usava e no final a bateria descarregava toda hora.
Entre 2016 e 2017 eu usei um Motorola Moto G3 que tinha pouca memória RAM e não conseguia abrir dois aplicativos ao mesmo tempo. Eu abri mão da garantia pra formatá-lo com um “Android alternativo”, o CyanogenMod, mas ao todo usei só por 1 ano.
Embora no geral eu conseguisse usar bem os celulares, por um motivo ou outro eu não voltaria a comprar os celulares das mesmas marcas que eu já usei.
Frustrado com o Android, decidi dar uma chance ao iPhone, do qual até então só tinha ouvido falar bem. Usei um iPhone SE de 2017 a 2019 e um iPhone 8 de 2019 até agora.
Conheço pessoas que fizeram uma viagem de ida sem volta para o mundo da Apple: compraram um dos produtos, gostaram, e daí foram comprando a família inteira — iPhone, iPad, Mac, MacBook, Apple Watch, Apple TV, etc.
Meu irmão foi o primeiro a ter um gadget da Apple na família: ele usou um iPod touch durante anos até a Apple parar de fornecer atualizações para o sistema operacional, mas os apps ainda funcionavam e bem. Ele vendeu e ainda conseguiu alguns trocados. Um amigo meu também usa um iPhone 6S há anos (o modelo é de 2015). São feitos pra durar.
No ecossistema da Apple, tudo funciona muito bem. Por exemplo, após bater uma foto com o iPhone, essa foto é enviada para o iCloud e em questão de segundos já aparece “automagicamente” no Mac. Não precisa conectar o iPhone ao Mac para transferir as fotos.
O problema é se você tem um notebook com Linux, como eu. Mesmo quem usa Windows, que é mais popular, tem problemas pra usar seu computador em conjunto com o iPhone, que “simplesmente funciona” se você tem tudo da Apple, mas se não vira uma novela.
Ao conectar um Android à USB do computador, você pode escolher se ele vai apenas carregar, transferir apenas fotos ou transferir arquivos em geral, nesse caso toda a memória interna aparece como se fosse um pendrive. É fácil mover e copiar fotos e arquivos do Android para o computador e vice-versa. Já ao conectar um iPhone, apenas as fotos aparecem (como uma câmera) e ele também carrega. Usando o cabo USB, é possível copiar e mover fotos do iPhone para o computador, mas não o contrário.
Há também um problema com o formato das fotos. O Android armazena as fotos no formato JPG, que se tornou praticamente universal, e as fotos são transferidas para o computador assim como estão. O iPhone armazena as fotos no formato HEIC e na transferência converte ou não essas fotos conforme o sistema operacional do computador. Se é um Mac, as fotos são copiadas como HEIC mesmo. Se é Windows ou Linux, as fotos são convertidas para JPG durante a cópia. É assim desde o iOS 11 e o macOS High Sierra.
Ocorre que para mim essa conversão nunca funcionou com o Linux e em algum momento parou de funcionar também com o Windows. Acabou que desativei essa conversão (indo em Ajustes > Fotos) e passei a copiar as fotos como HEIC mesmo. Porém no Windows eu precisaria instalar uma extensão que custa R$ 3,45 para conseguir abrir fotos HEIC. No Linux, instalando alguns pacotes, o GIMP consegue abrir fotos HEIC. Mas ele é pesado, é como se eu tivesse que abrir o Photoshop toda vez que quisesse apenas ver uma foto.
Transferir arquivos (como PDFs e DOCs) do computador para o iPhone e vice-versa também é complicado. O Android é simples para transferir arquivos como um pendrive e dispõe de apps gerenciadores de arquivos que permitem acessar todos os arquivos e pastas da memória interna. Já no iOS o acesso à memória interna não é transparente. Não há forma de acessar todos os arquivos e pastas, nem via computador, nem via app. O iOS cria uma pasta na memória interna para cada app e cada app consegue ver apenas sua própria pasta.
No Windows, é possível copiar arquivos de/para as pastas dos apps do iOS por meio do iTunes. Não há versão do iTunes para Linux e ele não funciona nem usando Wine. No caso do Linux, a solução de contorno é usar algum serviço de armazenamento de arquivos na nuvem, como o Dropbox, que fornece apps para Linux, iOS, Windows e outros sistemas.
Como os arquivos dos apps são isolados, até transferir arquivos entre apps — por exemplo, responder um e-mail no app Gmail anexando um arquivo que está na pasta do app Dropbox — é complicado. Isso passou a ser possível com a introdução do app Arquivos no iOS 11.
Transferir músicas do computador para o celular no caso do Android é simples, é o mesmo funcionamento do pendrive. No caso do iOS, só pode ser feito por meio do iTunes. Usuários do Linux então tem que recorrer a mais uma solução de contorno, que pode ser o app do VLC para iOS, que permite iniciar um servidor web no iPhone e então transferir as músicas por meio do navegador do computador. Outra opção, mais simples, é usar um serviço de streaming de música como o Spotify, cujos assinantes podem baixar músicas para o celular.
Passar fotos, arquivos ou até músicas via Bluetooth não seria uma opção? No Android, sim, seria mais uma opção. No iPhone, se o outro dispositivo é um computador com Windows ou Linux ou um celular com Android, não. O iPhone pareia normalmente com caixas de som e fones de ouvido Bluetooth, mas quando o assunto é transferência de arquivos, dispositivos da Apple só transferem arquivos entre si por meio do AirDrop.
Quando eu queria trocar fotos com pessoas que usavam celulares Android, eu recorria ao WhatsApp. O ruim dessa solução de contorno é que normalmente o WhatsApp comprime as imagens, que não chegam com toda a qualidade original. Por Bluetooth, a foto original seria transferida com a qualidade preservada.
Para dados e carregamento, a maioria dos smartphones com Android usa um cabo micro-USB, alguns mais novos estão vindo com cabo USB-C. Enquanto isso, o iPhone usa um cabo Lightning, que só dispositivos da Apple usam. O ruim disso é que eu precisava de um cabo Lightning só pra carregar o iPhone e um cabo micro-USB pra carregar todos os outros gadgets (caixa de som, fone de ouvido, power bank, etc). Também se por acaso eu esquecesse o cabo Lightning em casa, no trabalho tinha que procurar outro usuário de iPhone pra me emprestar o mesmo cabo. A maioria dos colegas só tinha cabo micro-USB.
Com relação a aplicativos, a loja da Google (a Play Store) tem mais apps que a loja da Apple (a AppStore): 2,56 milhões versus 1,84 milhões, respectivamente.
Claro que mais apps não significa melhores apps: o processo de aprovação da Apple para que um app apareça na AppStore é manual, mais rigoroso e demora mais, de modo que ela tem menos apps maliciosos que a Play Store. Em ambas há apps maliciosos e o usuário precisa estar sempre atento, mas é mais fácil baixar um app malicioso da Play Store.
Por outro lado, menos apps também não é necessariamente melhor. Esse maior controle da Apple sobre os apps gera algumas questões legais, filosóficas e até mesmo políticas.
Recentemente vimos redes sociais alternativas, que se anunciam como defensoras da liberdade de expressão, terem seus apps removidos da AppStore, como foi o caso do Parler em janeiro, ou sequer aceitos, como o Gab em 2016. O Telegram é outro app que já está na mira de grupos políticos. Não é de agora que a Apple remove apps da AppStore por motivos políticos. A Apple baniu apps que foram usados nos protestos de Hong Kong em 2019. A Fundação do Software Livre e a Wikipedia listam outras polêmicas envolvendo a Apple.
No Android, se a Google decide banir um app da Play Store, você ainda pode baixá-lo de lojas alternativas, como a F-Droid, ou direto dos desenvolvedores: os apps do Android são arquivos APK e podem ser instalados manualmente pelo usuário. No iOS, não há lojas alternativas à AppStore e o usuário não tem a liberdade de instalar apps manualmente. Se a Apple bane um app da AppStore, é como se ele deixasse de existir para usuários de iOS.
Se a partir de agora eu vou ter que lidar com lojas que removem apps por motivos políticos, acho melhor usar o Android, que ao menos me permite instalar os apps que eu quiser.
Como está o mercado hoje
Por último, mas não menos importante, não poderia deixar de falar no preço. O modelo de entrada da Apple é o iPhone SE (a segunda edição, de 2020), cuja variação com menor memória interna (64 GB) está à venda em algumas lojas por 2.650 reais. Fazendo uma pesquisa rápida, o Android mais barato que encontrei foi o LG K8+ à venda nas Americanas por 616 reais. Para uso básico (ligações, mensagens e redes sociais), ambos devem servir bem, com a diferença que o Android é muito mais barato que o iPhone.
Claro que pesquisando é possível encontrar modelos mais baratos, mais antigos e com especificações menores de ambos Android e iPhone. Usei como referência modelos que ainda aparecem nos sites das fabricantes, ou seja, são modelos novos. Tem gente que usa essa estratégia com o iPhone: compra um modelo anterior, que é menos caro mas já atende.
Claro também que, em termos de especificações, o iPhone SE é muito superior ao LG K8+, o que justificaria a diferença de preço. Comparando especificações, o Android mais próximo do iPhone SE seria o Google Pixel 3, mas ele não vende mais. Dentre os modelos à venda, encontrei por exemplo o Motorola Moto G9 Plus por 1.800 reais nas Casas Bahia. Ele já é igual ou superior ao iPhone SE em muitos quesitos e já é 850 reais mais barato.
Não apenas o iPhone é caro, mas seus acessórios também. A boa notícia é que, se você não fizer questão que os acessórios sejam originais, é possível encontrar os mesmos acessórios fabricados por marcas alternativas a uma fração do preço da loja oficial da Apple.
Resumo e conclusão
Eu já me convenci que não existe smartphone perfeito. Tanto no mundo do Android quanto no mundo do iPhone você pode encontrar smartphones muito bons. O iPhone tende a apresentar melhores hadware e software, maior durabilidade, mas também um preço muito maior. Já o Android tem preços mais em conta, especificações que já atendem, e o usuário tem mais liberdade pra fazer o que bem entende com o celular. Pra mim, liberdade vale mais.
E por isso decidi dar uma chance ao smartphone Multilaser MS80X. Tenho um tablet da Multilaser que já dura 4 anos e ainda funciona muito bem, o Multilaser M10A. Na época, os tablets Android mais comuns eram os da Samsung, mas esse da Multilaser tinha melhores especificações e era mais em conta. Minha percepção foi a mesma com relação ao MS80X. Comparado com o iPhone 8, ele não é de todo melhor, mas também não é de todo pior.
Quanto ao iPhone 8, ainda vou segurar mais um pouco. Vai levar um tempo até eu conseguir fazer backup de todas as fotos em um formato que todos os demais aparelhos da casa que não apenas o próprio iPhone consigam abrir…